Foto: Igreja no dia da instalação do pastor. Todas as instalações passaram por uma reforma e uma pintura geral fazia pouco tempo.A correspondência a seguir foi encaminhada à Igreja Evangélica Luterana do Brasil- Presidência daIELB, que a divulgou a toda a igreja. OBRIGADO! Isto fez com que mais pessoas tomassem conhecimento da realidade e orassem por nós todos aqui. Como escreveu um colega: "Se vocês não estivessem aí, esta guerrinha seria mais uma entre as tantas que acontecem na África e no mundo; mas com a presença de vocês aí, a questão muda de figura e acompanhamos as notícias com mais atenção e oração." OBRIGADO!"Queridos amigos e irmãos em Cristo:
Temos recebido muitas manifestações de apoio, orações, preocupações, por e-mails e pelo msn, devido à situação no Quênia, principalmente depois das notícias no Jornal Nacional sobre a queima de uma igreja com cerca de 50 mortos. MUITO OBRIGADO! Nos sentimos fortalecidos e animados no meio da insegurança gerada no país. Queremos, através desta, fazer um registro das nossas experiências diante disto tudo, e pedir que continuem a orar por nós, pela igreja cristã no Quênia e pelo país, para que seja restabelecida a paz e a ordem:
Dia 27 de dezembro ocorreram eleições no país; tranqüilas. Mas a demora na apuração dos votos deixou o povo nervoso e desconfiado. A disputa entre os dois principais candidatos era parelha. O Presidente Kibaki, re-eleito, é da tribo dos kikuius; o outro candidato, Raila, é da tribo dos luos. A questão tribal aqui é muito forte ainda e as rixas são antigas. Ainda antes da promulgação do resultado já aconteceram manifestações de violência, queima de casas e barracos. Tivemos que suspender os cultos do dia 30/dezembro por questões de segurança. Telefonamos para vários congregados no sábado à noitinha, e estavam todos trancados em suas casas, não saindo nem para comprar leite para as crianças, pois a violência imperava nas ruas em que moram. O Pastor Omodhi, responsável pela paróquia e pelos cultos em Swahili, me disse que não podia sair de maneira alguma de sua casa.
Com a promulgação do resultado, dando a vitória ao Pres. Kibaki, começaram as acusações de fraude e irregularidades na apuração dos votos. O perdedor não se conforma e acirra os ânimos dos seus partidários. Neste contexto, multiplicaram-se as manifestações de violência. Para entender um pouco melhor a história política do país, favor ler a reportagem no site:
http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI2192453-EI294,00.html
Lídia e eu estamos reclusos em casa desde o dia 26/Dezembro. Moramos em lugar seguro e tranqüilo, graças ao bom Deus. Só saí no dia 31 para fazer algumas compras no super-mercado (5 km aqui de casa) e hoje de manhã; mas a situação é de um silêncio constrangedor no mercado, todos apressados, comprando alimentos para fazer estoque em casa, prevendo dias piores. Pão, frutas e verduras, à medida que são colocados no balcão, desaparecem nas mãos dos consumidores. No país visinho, Uganda, já começa a faltar combustível; pois Uganda depende do abastecimento via-rodoviário/Quênia.
Tivemos que suspender o culto do dia 1º de Janeiro também (culto à noite, nem pensar!!!). Espero que possamos ter o culto no próximo domingo, Epifania.
Hoje a situação parece mais tranqüila e muitos voltaram ao trabalho. (A semana passada toda foi feriado: Natal, 2º Dia de Natal, dia de eleições, dia pós-eleições, dia após promulgação do resultado, Ano Novo.... etc. etc.). O candidato derrotado está convocando um grande comício para amanhã no parque público nos fundos na nossa igreja, no centro da cidade; ele quer se proclamar Presidente com o apoio popular, sob a alegação de fraudes na apuração; mas estão procurando demovê-lo desta idéia, para não causar mais tumulto.
Vamos ver no que vai dar.
Cada congregado com quem falamos por telefone tem uma história para contar dos fatos no bairro em que mora. A maioria mora em casas muito simples e em barracos, na periferia da cidade e nas favelas. Vamos continuar orando para que a paz volte.
Agradecemos novamente o carinho e as manifestações que recebemos. Deus guarde a todos neste ano que está iniciando e nos permita dar continuidade ao trabalho para o qual fomos chamados aqui.
Pastor Carlos Walter e Lídia Winterle
Nairobi, 02 de janeiro de 2008"
A Zero Hora, através da jornalista Priscila Martini, me entrevistou via msn (internet), pois por telefone não foi possível. A reportagem assustou muitos aí no Brasil; mas estamos bem, graças a Deus. Rogamos por dias melhores nesta terra tão bonita e abençoada por Deus (não é só o Brasil que é bonito e abençoado por Deus...). Segue a reportagem, caso alguém não tenha tido acesso a ela; (Parece que o jornal da RBS em Santa Catarina publicou a mesma reportagem no sábado; se alguém souber disso, favor me comunicar):
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Do paraíso ao inferno
Entrevista: Carlos Walter Winterle, pastor gaúcho morador do Quênia
Acostumado a visitar as favelas da capital do Quênia, Nairóbi, o pastor gaúcho Carlos Walter Winterle agora está preso em sua casa, no bairro de Karen. Desde que o presidente Mwai Kibabi foi reeleito, na semana passada, em meio a suspeitas de fraude, a violência tomou conta do país - e não é seguro sair às ruas. Mais de 300 pessoas já morreram nos conflitos entre os kikuyu e os luo, duas etnias rivais. Winterle, 57 anos, vive com a mulher, Lídia, há um ano e meio no Quênia, onde trabalham para a Igreja Luterana. O paraíso africano, segundo eles, ameaça agora virar palco de guerra civil. Ontem, o pastor conversou pela internet com Zero Hora:Zero Hora - Como está a situação no país após o anúncio do resultado das eleições?Carlos Walter Winterle - Está caótica, indo de mal a pior. O dia das eleições foi exemplar, mas, com a demora na apuração dos votos, começou a haver desconfiança. Aí começaram os distúrbios populares. O pessoal se enfrenta nas ruas e queima as casas uns dos outros só porque são de tribos diferentes.ZH - Só após o resultado ou sempre foi assim?Winterle - Em época eleitoral estas diferenças afloram novamente. Em tempos normais, se ouve comentários depreciativos, mas não há violência. O país estava tranqüilo, é considerado o mais estável da África. Há muito progresso, um potencial turístico enorme. Mas acho que a situação estava como um barril de pólvora: muitos esperando uma mudança para melhor.ZH - A violência ocorre em todo o país ou em alguns lugares a situação está mais calma?Winterle - Em todo o país. Sem mais nem menos colocam fogo nas casas, nas igrejas. Hoje (ontem) mesmo queimaram uma escola e uma igreja luterana na favela de Kibera. Foi triste. O pessoal de lá telefonando: "Invadiram a igreja, estão roubando tudo, agora botaram fogo...". E os membros da congregação do lado de fora, sem poder fazer nada. Nem nós aqui em casa, pois estamos reclusos desde 26 de dezembro, por recomendação da embaixada americana. Só saí dois dias para ir até o supermercado. Já estão faltando alimentos. À medida que o pão, frutas e verduras chegam nas prateleiras, somem... ZH - E qual foi o cenário que o senhor viu ao sair de casa?Winterle - Um silêncio constrangedor no mercado, cada um fazendo as compras ligeiro e quieto, poucos carros nas ruas. Moramos em um bairro residencial, a 20 quilômetros do centro, onde acontece o fervo. Aqui ainda não chegou a violência, pois há poucos moradores e pouco movimento nas ruas. Hoje mesmo foi o maior caos no centro da cidade. Todo o comércio fechou e as pessoas se refugiaram dentro de suas casas. ZH - Como era a vida no Quênia antes dos distúrbios?Winterle - Este ano e meio foi um paraíso! O trabalho está indo bem, o clima daqui é fabuloso, temos bons amigos. Encontramos condições de trabalho e de vida nunca imaginados na África. A cidade é boa, muito verde, muitas flores, muitos pássaros. ZH - O senhor pensa em voltar ao Brasil?Winterle - Minha esposa e eu ainda não estamos com medo nem pensamos em voltar para o Brasil. Confiamos que Deus está nos guardando e vai continuar a nos guardar. Temos uma missão a cumprir. ZH - O senhor vê a possibilidade de começar uma guerra civil?Winterle - Este é o medo da população. Já ouvi várias vezes na TV e no rádio dizerem que não querem que o Quênia se transforme em uma Ruanda. Se realmente estourar uma guerra civil, provavelmente não teremos condições de trabalhar aqui e teremos de voltar." Foto: Casa pastoral no dia da instalação do pastor ano passado A Agência Brasil, através da Jornalista Ana Luiza Zenker, (da Diretoria da Juventude Evangélica Luterana do Brasil - JELB), me entrevistou via skype, colocando trechos da entrevista na reportagem que segue e partes do áudio em programa de rádio e televisão:
3 de Janeiro de 2008-01-05
Polícia reprime protesto no Quênia e pelo menos mais duas igrejas são queimadas Ana Luiza Zenker* Repórter da Agência Brasil
Brasília - A polícia queniana reprimiu hoje (3) a manifestação convocada pelo candidato derrotado nas eleições presidenciais da última quinta-feira (27). O candidato de oposição Raila Odinga havia convocado 1 milhão de partidários a se reunir na praça Uhuru, no centro da capital queniana para protestar contra os resultados da eleição, quando o presidente Mwai Kibaki foi reeleito, em meio a acusações de fraude.De acordo com números fornecidos pela polícia, cerca de duas mil pessoas marchavam de diversos pontos de Naioróbi para se reunir na praça. A polícia usou gás lacrimogênio e jatos de água para dispersar um grupo que levantava barricadas em uma das principais avenidas da cidade, enquanto iam para a praça Uhuru.Na véspera, o governo queniano já tinha proibido a manifestação. A disputa política desencadeou violência em todo o país. Desde semana passada, estima-se que mais de 300 pessoas morreram e 100 mil saíram de suas casas.Segundo um alerta da Red24, uma rede especialista em alertas de segurança em todo o mundo, o comício que seria realizado hoje foi transferido para terça-feira (8). Brasileiro que vive em Nairobi, Carlos Winterle, diz que a mesma informação foi repassada aos moradores da capital queniana.Missionário da igreja luterana no país, Winterle diz que a expectativa é de que até terça haja tumulto. “A polícia está impedindo as pessoas de ir ao centro da cidade e nossa igreja fica exatamente neste Parque Uhuru, onde são as grandes concentrações. Não sei se poderemos ter culto no final de semana”, lamenta.Ele conta que desde o dia 26 de dezembro a família está reclusa em casa. Só saiu duas vezes e de forma rápida, no dia 31 e ontem (2), para ir ao supermercado.“Mas a situação é de um silêncio constrangedor no mercado, todos apressados, comprando alimentos para fazer estoque em casa, prevendo dias piores. Pão, frutas e verduras, à medida que são colocados no balcão, desaparecem nas mãos dos consumidores. No país vizinho, Uganda, já começa a faltar combustível, pois depende do abastecimento rodoviário do Quênia”, conta.De acordo com Winterle, só hoje foram liberadas imagens ao vivo na televisão. Foi por meio do noticiário que ele ficou sabendo que mais duas igrejas foram queimadas, em Kibera, maior favela do país. “Queimaram uma igreja anglicana e agora botaram fogo na nossa igreja [luterana] também”, disse.“Fiquei sabendo que colocaram fogo também na escola e na farmácia/ambulatório junto da igreja de Kibera, após roubarem tudo o que havia no ambulatório. Vândalos estão se aproveitando da situação e fazendo baderna.”Ele informou que começaram roubando o que havia no local e depois colocaram fogo, enquanto as pessoas ficaram olhando do lado de fora, sem poder fazer nada. Winterle lamenta o ocorrido, pois na igreja havia cerca de duas ou três equipes médicas que vinham todo ano dos Estados Unidos para atender à população gratuitamente.Ontem, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, se mostrou chocado com a violência desencadeada no Quênia, por meio de um comunicado divulgado por seu porta-voz. Ele convocou as autoridades políticas e religiosas a se lembrarem de “sua responsabilidade legal e moral de proteger as vidas de pessoas inocentes, independentemente de sua origem racial, religiosa ou étnica”.De acordo com informações da ONU, um dos principais problemas é o acesso de ajuda humanitária, já que a estrada Nairobi-Nakuru está bloqueada. Os corredores de transporte que saem do Porto de Mombasa também têm acesso restrito, o que dificulta o envio de suprimentos a operações de paz e humanitárias em outros países, como o Sudão, Uganda e Congo. *Com informações da Agência Telam
Foto: a casa poquial queimada.
O Pastor Dennis Meeker deveria morar nesta casa; mas sua esposa, que é queniana, disse que não seria prudente morar em lugar tão perigoso. A casa servia de escritório da igreja, e todos os documentos e livros da igreja foram queimados.
Com o e-mail recebido do Presidente da Igreja Evangélica Luterana do Brasil - IELB, Rev. Paulo moisés Nerbas, meu colega de classe e grande amigo, resumo os muitos e-mails que recebi de colegas, outros amigos e familiares:
"Estimados Walter e Lídia
Estamos preocupados com as notícias vindas do Quênia. É bom saber que vocês estão num lugar seguro, mas há muitos que estão em situação diferente. Incluiremos vocês, os irmãos quenianos e toda a nação em nossas orações, na certeza de que o Senhor gracioso e poderoso irá guardá-los.
Recebam um grande abraço de todos nós!
Com carinho, em Cristo
Paulo Moisés Nerbas"
O colega Lucas Albrecht, da Pastoral da ULBRA, deu destaque à afirmação do Secretário Geral da ELCK, Rev. John Halakhe (veja Quadro 5) na sua mensagem no culto de domingo na ULBRA. Confira no texto abaixo que ele me enviou:
"Estimado Pastor Winterle!
Obrigado pelo email e pelas fotos. Pude utilizar como ilustração do sermão de hoje, lembrando que por ocasião da visita dos reis também houve alguém que tentou acabar com a mensagem de Jesus.
Principalmente a força semiótica da fotografia da cruz inteira e a seguinte frase do pastor Halakhe, que me tocou muito:
"Eles podem ter queimado as igrejas mas não podem destruir a mensagem da cruz."
A tradução do texto está no blog da pastoral, se alguém quiser utilizar:
http://toquedevida.blogspot.com/
A foto e os emails abaixo estão também expostos aqui na capela universitária. Ficarão durante esta semana, que é também a do Avalia e Projeta.
Abraço, Deus os abençoe e guarde,
PLucas
www.toquedevida.blogspot.com " A tradução do texto do Sec. Geral segue abaixo (Cf. Quadro 5 deste BLOG):
"Queridos Amigos:Estas são algumas imagens da Igreja Luterana ‘Fonte da Vida’, em Kibera. Eu estive lá esta manhã e tirei algumas fotos. A história que ouvi é um testemunho vivo... Os vizinhos me contaram que a maneira como o fogo se apagou é impressionante, diante de seus olhos, e eles disseram que a Mão de Deus estava presente. O fogo ia consumir o edifício inteiro e então, subitamente, se apagou.Eu creio que isto foi obra da Fonte da Vida – o próprio Jesus Cristo. Vejam, muitas coisas viraram cinza, mas não a Cruz, como mostrarei nas imagens. Eles podem ter queimado as igrejas mas não podem destruir a mensagem da cruz.... nem nossa Fé e nem a assembléia dos crentes, que são o corpo de Cristo. E certamente a Fonte da vida que é o próprio Jesus Cristo e sua graça salvadora e Paz, manifestadas em sua morte na cruz e vitória sobre ela, e simbolizada em nosso Batismo, de fato fluirão da fonte batismal e do altar e continuarão a matar nossa sede de justiça, paz, comida e abrigo no Quênia e em todo o mundo.Que a paz do Senhor esteja com todos vocês.Em Cristo,Rev. John Halake."
A FOLHA DE SÃO PAULO colocou foto da igreja queimada em Kibera na primeira página, com a legenda: "Luterano ora em frente à igreja incendiada em Nairobi" . O rapaz que aparece de frente é o Josaphat, professor de Escola Dominical e líder entre os jovens e na evangelização (ele esteve também no Culto de Oração na Scripture Mission, ver quadro 7); e o outro é o Bosire, tecladista e líder do grupo de música. A foto parece ter sido tirada durante o culto deste domingo. (O crédito da foto é de Walter Astrada). O Pastor Nilo Wachholz logo nos avisou da reportagem e disse que nas páginas internas há mais fotos da cruz e de outros detalhes da igreja com a reportagem. Ele está me colocando em contato com a TV Boas Novas e com a Rede TV para uma entrevista. Tentaram ligar na segunda- feira à noite, mas não foi possível completar a ligação. Vão tentar hoje (terça-feira) novamente.